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Fernando Alves no Justiça e Paz

Fernando Alves no Justiça e Paz

 

«Sinais»: anotação pessoalíssima do andar dos dias, dos seus paradoxos, das suas mais perturbadoras singularidades. Todas as manhãs, num minuto, Fernando Alves continua um combate corpo a corpo com as imagens, as palavras, as ideias, os rumores que dão vento à actualidade.
Assim apresenta a TSF o mais inquietante programa da rádio portuguesa. Todas as manhãs na escuta da telefonia sem fios, ou apoiados na fascinante tecnologia da internet e do podcast, o ouvimos, nos assalta de repente o ouvido e o pensamento, o digerimos numa digestão tantas vezes difícil, pela sua irreverente gentileza. Tantas vezes me achou mais fora de mim do que ele, fazendo-me ver a minha indiferença e a minha inércia. Cultivou em mim o espanto das coisas simples e das pessoas simples, fez-me rir de mim mesmo e da sociedade estúpida que ajudo tantas vezes a erguer, fez-me chorar diante do sofrimento ou diante da beleza das pessoas.
Recordo Tarana e a impressionante descrição de uma fotografia de guerra na rádio. Recordo a impressionante narrativa do vídeo de Alejandro Toledo para a Cáritas de Madrid e o «Cala-te, Sarkozy. Um pouco de pudor. Verguenza». Recordo a comovente peregrinação daquela mãe entre Vaqueiros e Pernes. Recordo o «Saber Escutar» que, na minha opinião é provavelmente a sua crónica mais autobiográfica. Nela dá voz a Ruben Alves e recorda-nos que «Deus é a beleza que se ouve no silêncio». Nela nos fala dos jornais da manhã estendidos pela mesa, qual partitura musical complexa buscando a melhor interpretação. Nela nos diz que lê gente que não admira mas que tantas vezes o toca com um ponto de vista transformador. Recordo o «O relógio de parede parado», «O BI das Tabernas» e «Devagar, depressa» em que sublinha, por exemplo, mais uma voz que nos trazem os jornais, pela manhã: «A arte do gestor é entender a velocidade das pessoas»
Fernando Alves é uma das pessoas mais importantes na história da rádio em Portugal. Fundou e trabalha a rádio bissexta. Lendo diariamente a realidade é jornalista não dos vox populi mas sim, ouso dizê-lo, do sensus fidelium. Acolhe o dom do significado, o dom da vida que se oferece no real, no íntimo do quotidiano, para o qual só um olhar também bissexto encontra aptidão. Considero profética a sua interpretação do quotidiano. Não é um profeta daqueles que adivinham o futuro – não conheço nenhum –, mas antecipa o futuro, íntimo nos acontecimentos e nas decisões do presente, cujas consequências são claras para quem ousa abrir os olhos e ver.
Habitamos tempos do relativo, do descrédito da verdade, da opinião confundida e apresentada como verdade. Fernando Alves faz-nos sair do conforto letal de uma vida anestesiada e transporta-nos à essência das coisas, ao santuário da dignidade humana, e assim estende para nós caminhos de progresso, caminhos de justiça e paz. Em Fernando Alves encontramos, por heterodoxa inspiração divina ou por natural florescência, aquela doutrina humanizadora, que não é posse da Igreja mas que esta buscou sabiamente ao longo de séculos e é verdadeiro património da humanidade. A Igreja chama-lhe Doutrina Social da Igreja. Deveríamos talvez encontrar uma designação mais ampla.
Fernando Alves partilhou comigo, quando o convidei por telefone a vir ao Justiça e Paz: «Um dia fui abordado por um homem do tempo da ditadura que me disse: Todos os dias o ouço na rádio e quase sempre discordo do que diz, mas nunca me tratou mal!» Foi uma prova mais, já desnecessária, de que Fernando Alves era a pessoa quequeríamos connosco neste serão para tratar de GENTILEZA.
p.paulo

 

1 Maio 2015

 

 

 

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