Fundo Paginas Justiça e Paz

"O sol quando nasce é para todos"

 

Palavras no Jantar do Fundo Solidário do Instituto Justiça e Paz a 22 de novembro de 2017
Na comemoração do XLVI Aniversário do Instituto Universitário Justiça e Paz
Na comemoração do I Dia Mundial dos Pobres

Queridos Amigos do Fundo Solidário,

«O Sol quando nasce é para todos» é o tema da VIII Semana Solidária. Esta frase, de inspiração bíblica, mas que desta vez pedimos emprestada ao Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra, fala-nos de um Ensino Superior mais justo e inclusivo.

Dia Mundial dos Pobres
O Papa Francisco, no termo do Jubileu da Misericórdia, há um ano, quis oferecer à Igreja o Dia Mundial dos Pobres. Foi celebrado mundialmente no último domingo e, aqui entre nós, durante esta VIII Semana Solidária. O que diz Francisco, deste dia que nos oferece?
«Dia Mundial dos Pobres. Para que as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os mais carenciados. […] Este Dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade.»

O Instituto Justiça e Paz é uma comunidade cristã, presente no Ensino Superior em Coimbra, que concretiza este apelo do Papa Francisco. O Papa Francisco tem encontrado muita oposição ou indiferença. Queremos aqui hoje manifestar a nossa plena identificação com os seus desafios e a nossa colaboração para um Igreja melhor e para um mundo melhor.

O Fundo Solidário
O Fundo Solidário, criado em 2010, apoiou já cerca de 470 estudantes, em mais de 200.000 Euro. Só desde o início deste ano letivo, mais de 50 pessoas, em cerca de 14.000 Euro.
Mas não estamos aqui hoje para falar de números mas para encontrar pessoas de uma mesma família que somos, sim – um jantar de família – e, como numa boa família, refletimos como podemos apoiar-nos mais, uns aos outros, para combater as fragilidades que temos na família.

As palavras de Francisco convidam-nos a uma dupla atitude: reagir à cultura do descarte e assumir a cultura do encontro.

Reagir à Cultura do Descarte
Todos. Todos ainda seremos poucos. Todos devemos denunciar a cultura do descarte das pessoas. É certo que que é muito difícil superar esta cultura dos nossos tempos, pois “ruim árvore nem o sol a cresta”, mas acreditamos numa mudança progressiva. O abandono do Ensino Superior por questões económicas não é um mal menor, aceitável em função de um suposto desenvolvimento do conhecimento, das instituições e do país. O abandono é uma derrota de todos: Estado, Instituições de Ensino Superior, Comunidades, Famílias e Pessoas. Não, NÃO ao abandono por questões económicas, não ao descarte, não à indiferença que deixa muitos para trás. Como podem concorrer de forma justa aqueles que, no arranque da corrida, são obrigados a partir de uma posição abissalmente desigual?
Recordamos, para que não caia no esquecimento: o elevado valor da propina e do custo de vida no ensino superior, que faz logo uma seleção natural, impedindo muitos de vir; a insuficiência de número e valor das bolsas; o atraso na atribuição de bolsas como se algumas pessoas não tivessem despesas até ao Natal; e a situação que nos parece manter-se como a mais grave, a não consideração de exceção ao estatuto de estudante internacional para estudantes, sobretudo africanos, que já frequentavam o Ensino Superior e tiveram que o interromper por motivos bem legítimos, como trabalhar para não viver de apoios.
Além do abandono, devemos recordar ainda a situação de pobreza de muitos alunos do Ensino Superior: às vezes há pessoas a passar fome ou a ficar na rua, sendo o mais habitual as situações de má alimentação, mau alojamento, pressão das dívidas, solidão, exclusão social, enfim…
O Ensino Superior é um espelho da sociedade e do país e, agora, até do mundo. A pobreza é, no Ensino Superior, um fenómeno complexo que só pode ser combatida através de uma ação organizada e complexa, no melhor sentido da palavra, com a participação de muitos atores (stakeholders). Não podemos continuar tranquilos no pressuposto de que os Serviços de Ação Social das Instituições de Ensino Superior têm resposta para todas as situações. Posso dar o meu testemunho de já alguns anos de cooperação com os Serviços de Ação Social: são excelentes, é incrível o que fazem, precisamos de anos para conhecer bem tantas respostas que dão, há sempre uma resposta inovadora a acabar de sair, são mesmo muito bons. Mas faltam-lhes meios, melhores enquadramentos políticos da tutela e não pode depender só deles uma solução para a pobreza neste microcosmo do Ensino Superior.

O Instituto Justiça e Paz tem tentado fazer a sua parte, e pensamos que bem, pelo retorno que nos tem chegado. Também conhecemos o esforço de algumas câmaras municipais e de algumas associações e projetos sociais. Precisamos de uma nova ordem política que ponha o sol a nascer de facto para todos. Falta-nos muito para que o Ensino Superior em Coimbra seja uma história verdadeiramente feliz. Estarmos aqui hoje é sinal do nosso compromisso. Acreditamos num paradoxo: é possível mudar os factos! Para isso, não vamos «tapar o sol com a peneira».

Assumir a cultura do encontro
E a que nos comprometemos hoje? O que fica, aqui e hoje, combinado entre nós?
É certo que precisamos de palavras mas muito mais de ações: o povo diz que «a água rega, o sol cria».
O Fundo Solidário Justiça e Paz existe para que ninguém desista. E quem é o Fundo Solidário? Só a Dra. Raquel? Só os Parceiros? Somos todos nós aqui presentes e muitos mais: associações e núcleos de estudantes, professores, funcionários, pessoas em cargos diretivos, associações de antigos estudantes, empresas e muitos outros. O que fazemos pelo Fundo Solidário é já muito importante. Mas, com criatividade, somos ainda capazes de mais: criar laços de amizade com os que vemos mais sós, para romper o círculo de solidão e perceber o que se está a passar; oferecer o nosso tempo ou até o nosso espaço, oferecermo-nos disponíveis; assumir a responsabilidade de orientação de um estudante para o tornar protagonista do seu caminho e para o motivar a um percurso de excelência; assumir o compromisso de divulgar o Fundo Solidário junto de quem precisa e de quem pode apoiar; promover iniciativas de apoio ao Fundo Solidário; transformar iniciativas pontuais num compromisso habitual com o Fundo Solidário, uma vez por ano ou mais; fazer uma transferência mensal agendada de 5 ou 10 Euro; pagar um mês de alojamento a um estudante – 100 Euro; pagar uma mensalidade da propina – 100 Euro; pagar a alimentação de um estudante por mês – 150 Euro; envolver as Instituições em que trabalhamos no apoio ou ainda maior apoio a este Projeto; envolver as empresas que conhecemos propondo o Fundo Solidário como obra de eleição para a dimensão solidária da empresa. Coimbra é a cidade dos estudantes. O Fundo Solidário apoia os estudantes mais frágeis. É fácil passar a mensagem.

O que fica aqui hoje combinado entre nós? O nosso apoio ao Fundo Solidário não é sol de inverno - «sol de inverno, tarde sai e cedo vai», não é «sol de pouca dura». Sensibilizados neste jantar, combinamos aqui entre nós uma atitude de atenção, encontro e partilha junto dos estudantes do Ensino Superior. Hoje e depois de hoje, queremos «existir para ninguém desistir»… Assim construiremos a cultura do encontro a que o Papa Francisco nos convida. Assim, mais atentos aos que estão à nossa volta, identificaremos necessidades, faremos a nossa parte, encaminharemos para outros. Assim, ajudamos a melhorar a vida dos estudantes e evitaremos problemas maiores: «casa onde entra o sol, não entra o médico.»

Para o Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco recomenda que não nos esqueçamos da oração e recorda que «o Pai-Nosso é a oração dos pobres»: o pão pedido representa as necessidades primárias dos seres humanos. «Tudo o que Jesus nos ensinou com esta oração exprime e recolhe o grito de quem sofre pela precariedade da existência e a falta do necessário.» Elevamos a nossa prece pelos mais pobres e por todos os que lhe abrem o coração e lhes estendem as mãos: Pai Nosso…


Pe. Paulo Simões

 

23 Novembro 2017

 

 

 

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